domingo, 30 de março de 2008

Vídeo do trabalho

Direito de matar ou a morte da vontade



DIREITO DE MORRER OU A MORTE DA VONTADE


1. INTRODUÇÃO

“O Homem é um ser social”

Aristóteles, in “Politica”

O Homem não pode viver isolado.
Por necessidade ou por instinto de sobrevivência, o homem deve a sua evolução às relações inter-pessoais. Foi esta necessidade de relacionamento com os outros, que moldou as sociedades contemporâneas.
Mas se o homem é um ser eminentemente social, integrado num complexo sistema de inter relações, tem de si, antes de mais, uma noção inata de defesa pessoal, de individualidade. É este sentido de humano, que podemos chamar comummente de personalidade, que na relação com os outros criam de uma forma natural o conflito.
Esta natureza individualista do Homem resulta de muitas condicionantes diferentes: financeiras, culturais, sociais, morais, éticas... E em necessidades e desejos individuais, muitas vezes opostos e conflituosos.
O conflito é um fenómeno incontornável, inerente á condição da vida em sociedade e constante nas dinâmicas inter pessoais, embora o conflito não tenha necessariamente de constituir-se num problema ou patologia. É inerente à nossa condição humana e um elemento fundamental da nossa evolução como espécie.
É da necessidade de os resolver e de os evitar que nasce o Direito.


1.1. O que é o conflito

Não há consenso entre os autores sobre a definição de Conflito. Antes de mais, devemos esclarecer que Conflito é diferente de problema. Num Conflito “existem partes em confronto e desenvolve-se uma atitude de hostilidade. Já num problema há um grupo de pessoas que trabalham em conjunto, desenvolvendo-se uma atitude de aproximação”. (Almeida, 1995).[1]
Numa definição simples, pode dizer-se que estamos perante um “processo que se inicia quando um indivíduo ou um grupo se sente negativamente afectado por outra pessoa ou grupo” (De Dreu; 1997) [2]. Mais acutilante, podemos definir conflito como “divergência de perspectivas, percebida como geradora de tensão por pelo menos uma das partes envolvidas numa determinada interacção e que pode ou não traduzir-se numa incompatibilidade de objectivos” (Dreu & Weingart; 2002; Dimas,Lourenzo e & Miguez, 2005) [3].
Podemos então compreender o Conflito como natural, sendo inevitável num qualquer grupo ou organização, e não tem de ser visto negativamente, como uma força positiva para o desenvolvimento da produtividade da organização.
A visão interaccionista tem como argumento, que o conflito não pode ser apenas positivo mas que algum tipo de conflito é absolutamente necessário para a eficácia do grupo ou organização.[4]


2. DESCRIÇÃO E ENQUADRAMENTO DO CASO

2.1. Enquadramento

O trabalho que este grupo vai apresentar tem por pano de fundo um conflito sobre as questões de Eutanásia e do suicídio assistido, e intitula-se “Direito de morrer ou a morte da vontade”. Pretendemos caracterizar o conflito que se vai gerar entre dois indivíduos perante uma situação humana limite: Praticar ou não Eutanásia sobre a uma filha em estado clínico de coma vegetativo.
O tema da Eutanásia / Suicídio Assistido já não é novo na sociedade humana. É fonte de conflito há muitos séculos, mantendo-se controverso e chocante. É simples perceber porque é que todos nós temos uma opinião sobre a Eutanásia. Todos, sem excepção, estamos dispostos a entrar num Conflito para defender a nossa opinião sobre esta matéria: Este é um assunto de trata da vida e da morte, mexendo directamente na concepção que temos, enquanto sociedade e enquanto indivíduos, do valor da vida e da dignidade humana. Colocam-se aqui conflitos éticos, religiosos, jurídicos, médicos.
Por tudo isto, sabemos que trazemos para o nosso trabalho de grupo um assunto que levanta inúmeros obstáculos no seu tratamento e na sua pesquisa.
A Eutanásia tem despertado o interesse de muitos indivíduos e dos Mass Media, e daí têm surgido vários conflitos que dividem a sociedade ao meio: Afinal, quem defende e quem reprova o Direito à Eutanásia?


2.2. Descrição

Neste trabalho, o nosso grupo decidiu abordar a proposta de um conflito interpessoal cognitivo, imaginando uma situação de Eutanásia dentro de uma família:
Uma criança sofre um grave acidente de viação. A criança chama-se Inês, tinha na altura do acidente 12 anos, e como resultado fica tetraplégica, num coma profundo que dura há 3 anos.
Os pais, Jorge e Beatriz, já estavam separados na altura do acidente. Há muito que não têm vida em comum e nem a fatalidade de Inês conseguiu limar arestas de relacionamento cavadas por personalidades, objectivos, e concepções diferentes do modo de estar na vida.
Os dias vão passando, a solidariedade intensa que a situação de Inês causou na sociedade, nos Media, nos amigos, há muito que se esbateu.
Passados três anos, uma Inês em coma, sem hipóteses clínicas de recuperação dos movimentos, só têm o pai e a mãe ao seu lado.
Jorge acha que chegou a altura de colocar um ponto final na vida vegetativa da filha: Deixar Inês ir embora, fazer o luto e continuar com a sua vida.
Beatriz não aceita. Enquanto a filha tiver vida não vai permitir que desliguem os meios técnicos que suportam a sua frágil existência. Agora é altura de decidir…


3. TIPO DE CONFLITO

Este é um tipo de conflito interpessoal, que envolve directamente duas pessoas, de sexos diferentes, com antecedentes de relacionamento difícil - definidos pelo fim difícil de um relacionamento pessoal causador de frustrações, mas que ainda assim têm um objectivo comum – o bem-estar da pequena Inês -, que os obriga a comunicarem.

Os conflitos interpessoais surgem entre indivíduos pelas seguintes razões:

- Diferenças individuais: As diferenças a vários níveis entre pessoas podem causar situações inevitáveis de conflito. Essas diferenças podem estar presentes nos valores, crenças, atitudes, sexo, idades e experiências. Fazendo com que as várias situações sejam analisadas de múltiplas maneiras, pelos vários sujeitos, dando inevitavelmente a situações de divergência de pontos de vista. [5]

- Limitação dos recursos: Infelizmente a disponibilidade de recursos é limitada nas organizações, grupos ou famílias, nenhum destes tem todos os recursos que necessita ou deseja. Logo para que a partilha dos recursos seja efectuada de uma forma justa há necessidade de tomada de decisões: Quem ocupa o espaço? Quem executa este trabalho? Quem usa este recurso? Quem é informado? Quem tem o poder? Por os recursos serem limitados, estes são alvo de competição. É difícil a unanimidade quando se distribui equitativamente, pois existe sempre quem ache que fique
prejudicado.

- Diferenciação de papéis: Da dificuldade de definição de quem pode dar ordem ao outro poderá dar origem a conflitos interpessoais. Se esta ordem não é acatada pelo outro, dá-se o Conflito.
No caso em apreço, tornar-se claro para este grupo que o enfoque deste Conflito Interpessoal deverá ser dado às diferenças individuais, e dentro deste caracterizarmo-lo como um Conflito Cognitivo, já que se focaliza na diferenciação de julgamento sobre a mesma situação.
Estão aqui presentes alguns potenciais antecedentes do Conflito: A interdependência, que deriva da actuação conjunto dos pais no auxilio à pequena Inês; A postura agressiva e as personalidades incompatíveis, causadoras da separação litigiosa do casal; O criticismo inadequado e o clima de desconfiança, gerador de ressentimentos e de desejo de retaliação; As diferenças culturais e religiosas; A pressão do tempo; E sobretudo, as emoções, que geram respostas agressivas e consequentemente maior dificuldade em comunicar eficazmente. [6]


4. UMA ESTRATÉGIA PARA A RESOLUÇÃO

4.1. Modelos do processo de Conflitos

Nas Ciências Sociais dos nossos dias, são três as principais teorias sobre o Processo de Conflito. Resumidamente, o modelo de Walton e Dutton; Modelo Pondy; E o Modelo de De Dreu adaptado.
No sentido de adoptararmos uma estratégia para a resolução do problema, entendendo as suas fazes, este grupo definiu um mix dos três modelos mais seguidos, adoptando o esquema (Fig. 1) adaptado de Cunha et al. (Manual do comportamento Organizacional (2004) – Construído a partir de Pondy (1967); Thomas (1992); De Dreu (1997); De Dreu et al. (1999))


4.2. O problema

Perante o caso apresentado como pano de fundo deste trabalho, e tendo em linha de conta o esquema de processo de resolução que adoptámos, é claro para nós nesta fase que já que o conflito entre Jorge e Beatriz sobre a continuam a vida da filha em estado vegetativo ou a sua morte assistida se prende com factores pessoais de base – factores de natureza moral e religiosa -, atributos pessoais, a que acrescem conflitos individuais anteriores. No mesmo Conflitos temos questões de sociedade e questões individuais.
É para nós claro, nesta etapa, que muito dificilmente Jorge e Beatriz poderão desenvolver uma capacidade negocial coerente, numa perspectiva de ganhador / ganhador.
Numa altura em que passaram três anos sobre o desastre que vitimou a filha, a comunicação foi ficando cada vez mais difícil, as partes já não se ouvem, evitam-se, e só o anuncio de Jorge, que afinal o melhor era mesmo avançar para a Eutanásia conseguiu um novo envolvimento mútuo na resolução da situação.
Para conseguirem resolver o conflito, as partes têm de encontrar o momento mais adequado para se encontrarem. Deve haver disponibilidade de parte a parte e vontade de se empenharem
na resolução do problema / conflito.
Nesta fase, é fundamental que cada uma das partes: A escuta é difícil pois esta a lidar com um problema problema no qual Jorge e Beatriz estão envolvidos emocionalmente. Nesta altura, cada um defende o seu ponto de vista, em vez de escutar os argumentos do outro. (A necessidade de encontrar uma solução ajustada para o conflito leva a que todas os seus intervenientes tenham de ser ouvidos, expressando aí os seus valores, sentimentos.)


4.3. A Estratégia

As estratégias podem ser classificadas de acordo com duas dimensões ortogonais básicas: assertividade (grau em que a parte tenta satisfazer os seus interesses próprios) e a cooperação (grau em que a parte tenta satisfazer os interesses do outro).
Do cruzamento entre as duas dimensões resultam cinco estilos competição, acomodação, compromisso, colaboração e evitamento. [7]

- Competição – Reflecte a tentativa de satisfazer os próprios interesses à custa dos interesses do outro. O indivíduo tenta alcançar os seus objectivos sacrificando os do adversário, ou tenta convencer a outra parte de que o seu julgamento é correcto, ou tenta fazer com que a outra parte aceite a culpa por alguma transgressão e assuma as consequentes responsabilidades.

- Acomodação – Consiste na tentativa de satisfazer os interesses do outro, negligenciando os próprios. Podendo representar o desejo de alcançar os objectivos da contra-parte sacrificando os seus, ou a vontade de apoiar as opiniões contrárias, mesmo que delas tenha reservas, ou mesmo o esquecimento da transgressão praticada pelo outro.

- Compromisso – Representa a tentativa de satisfazer, moderada mas incompletamente, os interesses de ambas as partes. Daí pode resultar uma busca parcial de um objectivo, a procura de um acordo parcial para um julgamento/ideia/opinião, ou a aceitação parcial da culpa.

- Colaboração – Consiste na tentativa de satisfazer completamente os interesses de ambas as partes. Isso pode significar a tentativa de obtenção de uma solução ganha-ganha que permita a ambas as partes o alcance completo dos seus objectivos ou a busca do alcance de uma nova conclusão/ideia que incorpore os aspectos válidos dos julgamentos de ambas as partes, ou a tentativa de chegar a um conjunto partilhado de expectativas e a uma interpretação da transgressão que permita estabelecer padrões consensuais acerca do que é aceitável numa dada situação.

- Evitamento – O individuo ignora ou negligência os interesses de ambas as partes. Basicamente, evita envolver-se no assunto permitindo que os eventos sigam o seu curso de acção sem tentar que eles confluam para a satisfação dos interesses de uma e/ou outra parte.

No caso em apreço, estamos perante um clássico caso de antagonismo inicial entre as partes em conflito. Para o podermos resolver, deve desenvolver-se uma estratégia de cooperação. Mesmo que as partes pudessem resolver os problemas interpessoais que traziam da má relação que tinham, das diferenças pessoais e dos ressentimentos, continuaria ad eternum as diferenças de opiniões morais e religiosas. Assim, a estratégia passaria por levar as partes a adquirir uma atitude de Compromisso.


5. VANTAGENS E DESVANTAGENS

O Compromisso, como vimos atrás, representa a tentativa de satisfazer, moderada mas incompletamente, os interesses de ambas as partes. No caso em apreço, mesmo ultrapassadas as diferenças que já vinham do passado, o ruído na comunicação causado pela separação, pelas diferenças de atitude, pelas razões de emoção da própria tragédia, sobrava ao conflito as diferentes convicções morais e religiosas pessoais. A resolução do conflito teria que colocar a tónica no melhor para o bem-estar da pequena Inês. Esse é o único interesse comum que poderia provocar a resolução do conflito
Jorge, o pai, tem a convicção moral que está a proteger a filha de uma vida vegetativa inútil e de sofrimento e, por isso, sem sanar o conflito e à revelia da outra parte poderia colocar termo a vida de Inês, provocando a Eutanásia. Beatriz, a mãe, acredita que não se pode tirar uma outra vida, sejam quais forem as circunstâncias, mesmo as mais difíceis. Esta é uma convicção muito forte, e no início nem sequer estava disponível para a discutir. Para isso, este era um princípio de vida.
Da aplicação do Compromisso, resulta a uma busca parcial de um objectivo, a procura de um acordo. Jorge e Beatriz decidem procurar uma terceira entidade para resolverem o conflito: O Tribunal. Ambos mantêm as suas convicções, mas decidem que vão participar no processo judicial, vão expor as suas razões e, no fim, aceitar a decisão do Juiz, baseada na Lei. O compromisso, é assim, a aceitação pela da Justiça como forma de resolução do conflito.


6. CONCLUSÃO

Após um confronto de diferentes interesses a consequência mais imediata é o conflito.
Pelo facto de as pessoas se relacionarem com outras pessoas com valores, crenças, conhecimentos, experiências e objectivos diferentes, o conflito é um resultado esperado que não deve ser evitado, mas sim administrado.
Abordámos diferentes perspectivas do processo de desenvolvimento do conflito sendo aspectos comuns, a percepção que ambas as partes têm de conceber o conflito como tal, perceber os pressupostos uma da outra, quererem a resolução do conflito e aproveitarem o resultado final do processo de negociação de forma construtiva. O diálogo revela-se, desde o início da preparação da resolução do conflito, um elemento essencial. Existem conflitos que se arrastam, tornam-se crónicos, com consequências negativas para todos.
A abordagem realizada permite-nos adquirir algumas competências, para que na prática nos seja possível contribuir de forma activa para a resolução de eventuais conflitos.


7. BIBLIOGRAFIA

Pina e Cunha, M; Rego, A; Campos e Cunha, R; Cardoso, CC; “Manual de Comportamento Organizacional e Gestão”; RH Editora; 2005

Morais, Ana Maria; “Gestão de Conflitos”; Nursing ; 2002;

Da Cruz, Dulce Menezes; “Gestão de Conflitos”; Ciência e Técnica; 2004; Nº 52

Bilhim, João Abreu; “Teoria organizacional – estruturas e pessoas”, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas; 1996

Fachada; M. O.; “Psicologia das relações Interpessoais”; Rumus; 1998

Rego, Arménio; “Liderança das Organizações – Teoria e Prática”; Universidade de Aveiro 1ª Edição; 1998;


8. LINKS ÚTEIS

http://teses.eps.ufsc.br/defesa/pdf/9360.pdf

http://www.tgtreinamento.com.br/artigo.asp?artigo=21

http://expressoemprego.clix.pt/scripts/indexpage.asp?headingID=4450

http://teses.eps.ufsc.br/defesa/pdf/11455.pdf

FIM
_________________________________________________________
[1] Cunha, Miguel Pina; et al;”Manual de comportamento organizacional e gestão”;
Editora RH; 3ª Edição; 2004; ISBN: 972-98823-8-X

2/3 Cunha, Miguel Pina; et al;”Manual de comportamento organizacional e gestão”;
Editora RH; 3ª Edição; 2004; ISBN: 972-98823-8-X

[4] Bilhim, João Abreu; “Teoria organizacional – estruturas e pessoas”, Instituto
Superior de Ciências Sociais e Políticas; 1996

[5] Fachada; M. O.; “Psicologia das relações Interpessoais”; Rumus; 1998
[6] Pina e Cunha, M; Rego, A; Campos e Cunha, R; Cardoso, CC; “Manual de Comportamento Organizacional e Gestão”; RH Editora; 2005
[7] Rego, Arménio; “Liderança das Organizações – Teoria e Prática”; Universidade de
Aveiro 1ª Edição; 1998

Grupo 1

Grupo de trabalho

O Grupo 1 é composto por:

Nuno Serrano
Rui Ramusga
Sandra Pinheiro
Ana Cláudia Fernandes
André

Apresentação de trabalho

Olá a todos.

O Grupo 1 da disciplina "Negociação e Gestão de Conflitos" do curso de Solicitadoria da ESTG Leiria criou um espaço na Internet para debater a temática da Eutanásia.

Assim, em http://ngcgrupo1.blogspot.com poderá encontrar fotografias, textos e vídeos sobre o trabalho desenvolvido, para além de um questionário sobre a aceitação, ou não, da Eutanásia.

Neste contexto, a sua opinião é para nós muito importante, pelo que pedimos que navegue neste blogue e expresse as suas opiniões.

Obrigado.