domingo, 1 de junho de 2008

Negociação

1. Introdução
Se o conflito é um processo definido e reconhecido como característico do ser humano, inerente á sua condição de viver em sociedade, a negociação é sustentada e existe para resolver esses conflitos.
A negociação, é pois, a forma mais eficaz de resolver esses conflitos, e o seu impacto reflecte-se no bem-estar do Ser humano.
“Consiste num processo de resolução de conflitos entre duas ou mais partes opostas através do qual ambas ou todas as partes modificam as suas exigências até alcançarem um compromisso aceitável para todos” (Kennedy)
A definição de conflito comporta em si um conjunto de elementos essenciais para que haja negociação, e esses elementos são: interacção, divergências, interesses comuns, necessidade de uma solução e um certo carácter voluntarista na procura de um entendimento.
Uma negociação eficiente e eficaz requer, conhecimento sobre as pessoas que negoceiam, sobre os assuntos em jogo, e as técnicas de negociação. A sua eficácia depende das realidades externas e internas de cada uma das partes, e os seus processos de percepção, expectativas e emoções crenças e valores.
A negociação pode ser, distributiva, onde há um bolo fixo a partilhar, e uma estrutura de interdependência que se identifica como ganho/perda. Como pode ser, integrativa, quando estamos perante um caso que o ganho pode ser partilhado por ambas as partes, tipo ganha/ganha.
O trabalho que agora vamos desenvolver emerge de um conflito interpessoal, profundamente vincado por questões de éticas, morais e religiosos. Questões essas, que se sobrepõem á necessidade de resolver o conflito, tornando difícil o entendimento entre as partes.
O conflito que criamos para este trabalho é puramente ficcionado, tem no entanto, raízes muito fortes na realidade, e coloca-nos um conjunto de dúvidas muitas vezes difíceis de responder.
Cabe-nos nesta segunda fase do trabalho de grupo, analisar o processo negocial que poderíamos desenvolver se este caso existisse. E como poderão ver no nosso filme a realidade não está assim tão distante.

2. O conflito
Uma criança sofre um grave acidente de viação.
A criança chama-se Inês, tinha na altura do acidente 12 anos, e como resultado do acidente fica tetraplégica, num coma profundo que dura há 3 anos.
Os pais, Jorge e Beatriz, já estavam separados na altura do acidente. Há muito que não têm vida em comum e nem a fatalidade de Inês conseguiu limar arestas de relacionamento cavadas por personalidades, estilos de vida e concepções diferentes do modo de estar na vida.
Os dias vão passando, a solidariedade intensa que a situação de Inês causou na sociedade, na média, nos amigos, há muito que se esbateu.
Passados três anos, uma Inês em coma, sem hipóteses clínicas de recuperação dos movimentos, só tem o pai e a mãe ao seu lado.
Jorge acha que chegou a altura de colocar um ponto final na vida vegetativa da filha: Deixar Inês ir embora, fazer o luto e continuar a vida.
Beatriz não aceita. Enquanto a filha tiver vida não vai permitir que desliguem os meios técnicos que suportam a vida.

3. Analise do caso
Analisando este caso, identificamos desde logo um conjunto de elementos que nos levam á necessária negociação:
- Interacção entre os protagonistas, o que implica uma forma de relacionamento e comunicação entre o casal separado e com uma filha, apesar de divorciados, existem outros familiares, são elementos influenciadores.
- Divergência, interpretação e percepção diferente quanto aos interesses em causa, conflitos de valores e distintos sobre a Eutanásia. Diferem de educação e crenças diferentes.
- Interesses comuns, a constatação de uma interdependência entre as partes, obrigados a agir na procura de uma solução para o estado de Inês.
- Necessidade de uma solução que seja aceitável para ambas as partes e que traga alguma tranquilidade para os pais e toda a família.
- Carácter voluntário apesar de profundas divergências, para o sucesso de uma negociação, terá sempre que haver um carácter voluntário e uma predisposição de todos na tentativa de uma solução comum.
As expectativas dos pais de Inês são demasiado ambiciosas para que, aparentemente, se possa atingir um acordo, excepto se, se identificar uma solução em que ambos saíam a ganhar.
As expectativas que ambos depositam nesta negociação bem como o perfil de cada um pressupõe uma negociação baseada na competição, assente em comportamentos de maior agressividade e de maior intolerância.

4. Preparação da negociação
Do mesmo modo que o conhecimento das matérias relacionadas com o conflito, e dos actores em confronto são importantes na negociação, a preparação é um dos pontos-chave para o seu êxito.
Para que haja sucesso na negociação é necessário conhecer e utilizar, um conjunto coerente de instrumentos, de métodos e de técnicas, fundamentais para resolução do conflito.
Conhecer as partes em conflito, a sua relação de interdependência, a sua relação de forças, as expectativas que depositam na negociação e a sua percepção das divergências. Saber como elas reagem.
As suas características como indivíduos (Manipulador, Honesto, Lúcido, Ingénuo).
Note-se que no nosso caso, estão em confronto duas pessoas diametralmente diferentes.
- Pai, homem liberal, desprendido de bens materiais que ama a natureza, amigo do seu amigo, com um grande sentido de humor.
- Mãe, nascida numa família austera, com uma educação muito rígida, e que acredita profundamente em Deus.
No entanto planear significa, antes de mais, criar objectivos para que o resultado da negociação seja o mais estável a longo prazo, mais benéfico para a harmonização entre as partes.
É nesta fase que se recolhem os elementos de informação necessários a uma posterior negociação, de modo a formular um conjunto de argumentação de apoio, necessária para posteriores discussões.
Da análise dos interesses e as posições das partes em confronto, sobrepondo aos objectivos definidos, obtêm-se o ponto de resistência, isto é o ponto ideal para atingir o acordo.
No nosso caso, as expectativas dos pais de Inês são demasiado ambiciosas para que se possa atingir um acordo, excepto se, se identificar uma solução em que ambos saiam a ganhar, contribuindo para o bem estar daquela família e uma solução aceitável para Inês.
Pontos de resistência no nosso conflito:
- Os tipos de conflitos, no nosso caso o conflito assenta em questões de crenças, culturais e religiosas e a percepção sobre o que é melhor para a filha.
- As relações de poder, e o seu impacte na dinâmica relacional e na eclosão de conflitos. Neste caso falamos de uma situação em que as partes que conflituantes têm o mesmo poder de decisão.
- A comunicação ineficaz como factor de conflito, a nossa negociação assenta numa relação de carácter interpessoal, que se caracteriza por um completo conflito de interesses, o que pressupõe uma negociação de carácter distributiva.
È também, nesta fase que se pondera, questões procedimentais, como as características do local das reuniões, o calendário ou a ordem pela qual se vão tratar os assuntos.
Com os dados que dispomos sobre a matéria, entendemos neste caso, que a disputa entre Jorge e Beatriz, deveria ser mediado por uma terceira pessoa que ajudasse a estabelecer uma relação de confiança entre ambos, necessário a negociação aceitável.

5. Estratégias e tácticas
Os modelos de negociação revestem-se de um conjunto de elementos em análise que permitem compreender a dinâmica relacional do conflito. Tornando este num fenómeno de grande variabilidade.
È uma fase tacticista e muito dinâmica, que se caracteriza pela opção entre negociar ou não negociar, de fornecer informação imediata ou fornece-la ao longo da negociação.
- As principais estratégias de negociação:
4 Integrativa: Se está em jogo mais do que uma questão, cada uma delas valorizada de maneira diferente pelas partes. O ganho pode ser partilhado por ambas as partes. Implica um equilíbrio na relação de forças, criação de confiança futura, ganhos para todos.
4 Distributiva: Envolve geralmente uma só questão, há um bolo fixo a partilhar. O ganho de um implica a perda do outro. Implica um desequilíbrio na relação de forças e dificulta uma relação duradoura.
A escolha da estratégia é definida em função dos objectivos que se pretendem alcançar e da situação em causa. Saber adaptá-las ao processo durante a negociação, implica a utilização de um conjunto de tácticas.
- As Tácticas. São fundamentais para ultrapassar as situações de impasse que vão surgindo durante a negociação. O impasse pode ser táctica na negociação
4 Tácticas competitivas: Utilizadas nas estratégias distributivas. Prevalece os interesses de quem as utiliza.
. Lisonja – manipulação, baixar resistência do opositor
. Persuasão – argumentação para convencer
. Promessas e Ameaças
. Decisões irreversíveis – ameaça/determinação
4 Tácticas cooperativas: Utilizadas nas estratégias integrativas. Encontrar soluções que agradem a ambas as partes.
. Expansão de recursos – aumentar recursos
. Brainstorming – Produzir o máximo de ideias
. Interesses partilhados – identificação de interesses
. Compensação não especifica – indemnização
. Redução de custos – compensação
. Alternativa super-ordenada – nova opção
4 Tácticas de modificação de comportamento: Podem ser utilizadas em ambas as estratégias
. Reforço do comportamento – repetir comportamento
. Shaping – aproximação comportamentos desejáveis
. Bluff – induzir comportamentos falseados (perigosa)
. Coligações – acordos sobre determinados pontos
O caso que apresentamos, é aparentemente de estratégia distributiva.
As interacções distributivas caracterizam-se por comportamentos de ataque/defesa, de competitividade entre as partes, uma comunicação agressiva e por vezes distorcida.
Associa-se á crença de que o ganho de um é a perda do outro, trata-se de um jogo soma nula, maximizar os ganhos e minimizar as perdas ou lucro próprio.
Os pais de Inês irão utilizar um conjunto de tácticas mais duras de forma a influenciar o ponto de resistência da parte oponente.

6. Como resolver o nosso caso
A terceira pessoa que elegemos para mediar o nosso conflito é padre, uma pessoa muito próxima do casal e conhecedor profundo dos seus problemas. È ele que utilizando os seus conhecimentos vai utilizar todas estas técnicas no sentido de encontrar uma solução
- Mediação: è um método de negociação extrajudicial muito útil principalmente, como no caso em analise, estão em causa conflitos com raízes profundas. A Partir da sua posição proporcionam recurso para um melhor entendimento.
A primeira etapa da negociação, é uma etapa de grande tensão, e assiste-se muitas vezes a exageros e a tentativas de condicionar a outra parte.
È nesta fase que se afirmam os antagonismos, muitas vezes demonstradas pela firmeza que se coloca na defesa dos interesses próprios. Mas também é neste ponto da negociação que se clarificam os objectivos e a vontade de alcançar um acordo.
Estabelecer uma boa relação com os interlocutores é fundamental, a confiança e a honestidade, em especial no nosso caso.
- Mantendo uma comunicação harmoniosa e eficaz, permitir que ambas as partes clarifiquem as posições, deixar claro quais as suas expectativas sem que para isso exista um compromisso. Vincar a necessidade de chegar a um acordo.
- Construir e manter um clima de confiança – utilizar um processo de comunicação com base nos interesses mútuos, através da assertividade e do saber ouvir, de modo a potenciar a atitude cooperativa nos outros para facilitar a negociação
- Seleccionar um conjunto de procedimentos de forma a reforçar um comportamento positivo e de confiança.
- Ultrapassar os bloqueios, pessoais que dificultam a procura de critérios comuns para construir soluções, muitas vezes, como no nosso conflito, arreigados a questões éticas, morais ou religiosas que influenciam a percepção do indivíduo num determinado caso concreto.
- Saber conduzir a negociação: utilizar os métodos mais eficazes em cada etapa
4 Enquadrando os vários elementos da negociação e os interesses mútuos em conflito, e tratando os diferentes tipos de objecções;
4 Saber sair de uma situação de impasse é a chave para desbloquear situações e retomar os diálogos em clima de cooperação.
- Avaliar a relação de poder na negociação, poder expresso, poder real, poder percebido.
- A importância do tempo na negociação, a necessidade de perceber que o elemento tempo pode ser um factor muito influenciador na negociação. Situação que não se coloca no nosso conflito.
A necessidade de concluir acordos torna a atmosfera mais pesada. A relação tende a tornar-se mais tensa.
È agora o momento central do processo de negociação, onde se manifesta alguma flexibilização, como contraponto á rigidez inicial. Surgem as propostas e as contra propostas.
A conclusão da negociação depende sempre da percepção que cada um tem, da convicção, da possibilidade ou não, em obter melhorias da outra parte relativamente ás proposta apresentadas.
O elemento temporal desempenha nesta fase um papel determinante quanto á serenidade e margem de manobra que cada parte tem.
- Técnicas de fecho da negociação – È uma fase breve mas intensa, a moldagem do acordo final, através de concessões em assuntos menos importantes.
- Saber avaliar a eficácia de uma negociação, Saber se conseguimos um acordo fiável, duradouro e que seja integrativo como forma de reforçar a relação entre ambos.

7. Conclusão
Quando iniciamos o trabalho de grupo sabíamos que este era um conflito polémico e uma negociação difícil.
O caso que desenvolvemos caracteriza-se aparentemente como uma negociação distributiva. Pois surge de um conflito interpessoal e de uma correlação de forças idêntica. O bolo não se divide, é a teoria do jogo soma nula, alguém ganha e o outro perde. É aparentemente inegociável.
A solução parecia só ser possível através da arbitragem, recorrendo aos tribunais.
À medida em que fomos desenvolvendo o nosso trabalho, e que o passamos da terceira para a primeira pessoa percebemos que a percepção que tínhamos do próprio conflito era errada. Ela mudou ao contactarmos com pessoas que vivem e lidam problemas semelhantes.
Ao falarmos com a mãe do Pakuka percebemos que este, em ultima analise, é um conflito intrapessoal.
Ao falarmos com o padre David Barreirinhas que a posição da igreja em relação á eutanásia não é tão ortodoxa como pensávamos.
Foram estes os factores que nos levaram a concluir que numa mediação levada a cabo por um padre a percepção de Beatriz em relação á eutanásia iria mudar.
Como podemos acompanhar durante o trabalho o sucesso desta negociação deveu-se fundamentalmente a tês factores essenciais.
- O planeamento, através do conhecimento da matéria e dos personagens envolvidos. Proporcionando a capacidade de reagir a situações de impasse e de bloqueio
- O estabelecimento de objectivos, encontrar uma solução digna para a filha que trouxe paz e harmonia ao seio daquela família.
- O recurso a um mediador revelou-se decisivo para a resolução deste conflito.
Assim, percebemos que a percepção da Mãe de Inês em relação ao conflito ia mudar.
Beatriz pode agora, aceitar a morte da sua filha.

Bibliografia
Pedro Cunha – Conflito e negociação
Bazer & Neale, 1993; Kennedy & mcmillan, 1996; Pruit 1981
Greenhalgh, 1987; Serrano & Rodrigues, 1993a
Dupont, 1994 – Estratégias na lingugem da teoria dos jogos
Teresa Campos Proença e António Pedro Correia

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Terry Schiavo - O caso americano

Impressionante video de Terry Schiavo

Um impressionante video de Terry Schiavo, no Hospital, com vida numa das visitas do pai nos primeiros tempos da sua doença.
Esta americana com graves lesões cerebrais, acabou por se tornar no centro de uma enorme disputa judicial nos Estados Unidos, que dividiu o seu marido e os país.
Schiavo morreu em Março de 2005, com 41 anos, depois do Supremo Tribunal Federal dos EUA terem autorizado que os medicas lhe retirassem o tubo de alimentação e hidratação que a mantinha viva, em estado vegetativo, há mais de cinco anos.

mms://media.renewamerica.us/renew/schiavo.wmv

O Caso Ramón Sampedro

Ramón Sampedro, espanhol, tetraplégico desde os 26 anos, solicitou à justiça espanhola o direito de morrer, porque não suportava mais viver.
Ramón Sampedro permaneceu tetraplégico por 29 anos.
A sua luta judicial demorou cinco anos, mas o direito à eutanásia activa voluntária nunca lhe foi concedido: A lei espanhola caracterizaria sempre este tipo de acção como homicídio.
Ramon nunca aceitou o veredicto: Com o auxílio de amigos planeou a sua morte de forma não incriminar quem o circundava.
Em Novembro de 1997, mudou-se de sua cidade, Porto do Son, na Galícia-Espanha, para La Coruña, 30 km distante.
Passados poucos meses, no dia 15 de Janeiro de 1998, foi encontrado morto, de manhã, por uma das amigas que o auxiliava.
A autopsia indicou morte por ingestão de cianeto.
Ramón Sampedro gravou em vídeo os seus últimos minutos de vida. No filme torna-se evidente que os amigos colaboraram, colocando o copo com um canudo ao alcance da sua boca, porém fica igualmente documentado que foi ele quem fez a acção de colocar o canudo na boca e chupar o conteúdo do copo. A repercussão do caso foi mundial, tendo sido destaque na imprensa como morte assistida.
A amiga de Ramón Sampedro foi incriminada pela polícia como sendo a responsável pelo homicídio. Um movimento internacional enviou cartas "confessando o mesmo crime". A justiça, alegando impossibilidade de levantar todas as evidências, acabou por arquivar o processo.


"Mar Adentro" - O Filme


http://www.youtube.com/watch?v=h6uWs6DoXXY

domingo, 30 de março de 2008

Vídeo do trabalho

Direito de matar ou a morte da vontade



DIREITO DE MORRER OU A MORTE DA VONTADE


1. INTRODUÇÃO

“O Homem é um ser social”

Aristóteles, in “Politica”

O Homem não pode viver isolado.
Por necessidade ou por instinto de sobrevivência, o homem deve a sua evolução às relações inter-pessoais. Foi esta necessidade de relacionamento com os outros, que moldou as sociedades contemporâneas.
Mas se o homem é um ser eminentemente social, integrado num complexo sistema de inter relações, tem de si, antes de mais, uma noção inata de defesa pessoal, de individualidade. É este sentido de humano, que podemos chamar comummente de personalidade, que na relação com os outros criam de uma forma natural o conflito.
Esta natureza individualista do Homem resulta de muitas condicionantes diferentes: financeiras, culturais, sociais, morais, éticas... E em necessidades e desejos individuais, muitas vezes opostos e conflituosos.
O conflito é um fenómeno incontornável, inerente á condição da vida em sociedade e constante nas dinâmicas inter pessoais, embora o conflito não tenha necessariamente de constituir-se num problema ou patologia. É inerente à nossa condição humana e um elemento fundamental da nossa evolução como espécie.
É da necessidade de os resolver e de os evitar que nasce o Direito.


1.1. O que é o conflito

Não há consenso entre os autores sobre a definição de Conflito. Antes de mais, devemos esclarecer que Conflito é diferente de problema. Num Conflito “existem partes em confronto e desenvolve-se uma atitude de hostilidade. Já num problema há um grupo de pessoas que trabalham em conjunto, desenvolvendo-se uma atitude de aproximação”. (Almeida, 1995).[1]
Numa definição simples, pode dizer-se que estamos perante um “processo que se inicia quando um indivíduo ou um grupo se sente negativamente afectado por outra pessoa ou grupo” (De Dreu; 1997) [2]. Mais acutilante, podemos definir conflito como “divergência de perspectivas, percebida como geradora de tensão por pelo menos uma das partes envolvidas numa determinada interacção e que pode ou não traduzir-se numa incompatibilidade de objectivos” (Dreu & Weingart; 2002; Dimas,Lourenzo e & Miguez, 2005) [3].
Podemos então compreender o Conflito como natural, sendo inevitável num qualquer grupo ou organização, e não tem de ser visto negativamente, como uma força positiva para o desenvolvimento da produtividade da organização.
A visão interaccionista tem como argumento, que o conflito não pode ser apenas positivo mas que algum tipo de conflito é absolutamente necessário para a eficácia do grupo ou organização.[4]


2. DESCRIÇÃO E ENQUADRAMENTO DO CASO

2.1. Enquadramento

O trabalho que este grupo vai apresentar tem por pano de fundo um conflito sobre as questões de Eutanásia e do suicídio assistido, e intitula-se “Direito de morrer ou a morte da vontade”. Pretendemos caracterizar o conflito que se vai gerar entre dois indivíduos perante uma situação humana limite: Praticar ou não Eutanásia sobre a uma filha em estado clínico de coma vegetativo.
O tema da Eutanásia / Suicídio Assistido já não é novo na sociedade humana. É fonte de conflito há muitos séculos, mantendo-se controverso e chocante. É simples perceber porque é que todos nós temos uma opinião sobre a Eutanásia. Todos, sem excepção, estamos dispostos a entrar num Conflito para defender a nossa opinião sobre esta matéria: Este é um assunto de trata da vida e da morte, mexendo directamente na concepção que temos, enquanto sociedade e enquanto indivíduos, do valor da vida e da dignidade humana. Colocam-se aqui conflitos éticos, religiosos, jurídicos, médicos.
Por tudo isto, sabemos que trazemos para o nosso trabalho de grupo um assunto que levanta inúmeros obstáculos no seu tratamento e na sua pesquisa.
A Eutanásia tem despertado o interesse de muitos indivíduos e dos Mass Media, e daí têm surgido vários conflitos que dividem a sociedade ao meio: Afinal, quem defende e quem reprova o Direito à Eutanásia?


2.2. Descrição

Neste trabalho, o nosso grupo decidiu abordar a proposta de um conflito interpessoal cognitivo, imaginando uma situação de Eutanásia dentro de uma família:
Uma criança sofre um grave acidente de viação. A criança chama-se Inês, tinha na altura do acidente 12 anos, e como resultado fica tetraplégica, num coma profundo que dura há 3 anos.
Os pais, Jorge e Beatriz, já estavam separados na altura do acidente. Há muito que não têm vida em comum e nem a fatalidade de Inês conseguiu limar arestas de relacionamento cavadas por personalidades, objectivos, e concepções diferentes do modo de estar na vida.
Os dias vão passando, a solidariedade intensa que a situação de Inês causou na sociedade, nos Media, nos amigos, há muito que se esbateu.
Passados três anos, uma Inês em coma, sem hipóteses clínicas de recuperação dos movimentos, só têm o pai e a mãe ao seu lado.
Jorge acha que chegou a altura de colocar um ponto final na vida vegetativa da filha: Deixar Inês ir embora, fazer o luto e continuar com a sua vida.
Beatriz não aceita. Enquanto a filha tiver vida não vai permitir que desliguem os meios técnicos que suportam a sua frágil existência. Agora é altura de decidir…


3. TIPO DE CONFLITO

Este é um tipo de conflito interpessoal, que envolve directamente duas pessoas, de sexos diferentes, com antecedentes de relacionamento difícil - definidos pelo fim difícil de um relacionamento pessoal causador de frustrações, mas que ainda assim têm um objectivo comum – o bem-estar da pequena Inês -, que os obriga a comunicarem.

Os conflitos interpessoais surgem entre indivíduos pelas seguintes razões:

- Diferenças individuais: As diferenças a vários níveis entre pessoas podem causar situações inevitáveis de conflito. Essas diferenças podem estar presentes nos valores, crenças, atitudes, sexo, idades e experiências. Fazendo com que as várias situações sejam analisadas de múltiplas maneiras, pelos vários sujeitos, dando inevitavelmente a situações de divergência de pontos de vista. [5]

- Limitação dos recursos: Infelizmente a disponibilidade de recursos é limitada nas organizações, grupos ou famílias, nenhum destes tem todos os recursos que necessita ou deseja. Logo para que a partilha dos recursos seja efectuada de uma forma justa há necessidade de tomada de decisões: Quem ocupa o espaço? Quem executa este trabalho? Quem usa este recurso? Quem é informado? Quem tem o poder? Por os recursos serem limitados, estes são alvo de competição. É difícil a unanimidade quando se distribui equitativamente, pois existe sempre quem ache que fique
prejudicado.

- Diferenciação de papéis: Da dificuldade de definição de quem pode dar ordem ao outro poderá dar origem a conflitos interpessoais. Se esta ordem não é acatada pelo outro, dá-se o Conflito.
No caso em apreço, tornar-se claro para este grupo que o enfoque deste Conflito Interpessoal deverá ser dado às diferenças individuais, e dentro deste caracterizarmo-lo como um Conflito Cognitivo, já que se focaliza na diferenciação de julgamento sobre a mesma situação.
Estão aqui presentes alguns potenciais antecedentes do Conflito: A interdependência, que deriva da actuação conjunto dos pais no auxilio à pequena Inês; A postura agressiva e as personalidades incompatíveis, causadoras da separação litigiosa do casal; O criticismo inadequado e o clima de desconfiança, gerador de ressentimentos e de desejo de retaliação; As diferenças culturais e religiosas; A pressão do tempo; E sobretudo, as emoções, que geram respostas agressivas e consequentemente maior dificuldade em comunicar eficazmente. [6]


4. UMA ESTRATÉGIA PARA A RESOLUÇÃO

4.1. Modelos do processo de Conflitos

Nas Ciências Sociais dos nossos dias, são três as principais teorias sobre o Processo de Conflito. Resumidamente, o modelo de Walton e Dutton; Modelo Pondy; E o Modelo de De Dreu adaptado.
No sentido de adoptararmos uma estratégia para a resolução do problema, entendendo as suas fazes, este grupo definiu um mix dos três modelos mais seguidos, adoptando o esquema (Fig. 1) adaptado de Cunha et al. (Manual do comportamento Organizacional (2004) – Construído a partir de Pondy (1967); Thomas (1992); De Dreu (1997); De Dreu et al. (1999))


4.2. O problema

Perante o caso apresentado como pano de fundo deste trabalho, e tendo em linha de conta o esquema de processo de resolução que adoptámos, é claro para nós nesta fase que já que o conflito entre Jorge e Beatriz sobre a continuam a vida da filha em estado vegetativo ou a sua morte assistida se prende com factores pessoais de base – factores de natureza moral e religiosa -, atributos pessoais, a que acrescem conflitos individuais anteriores. No mesmo Conflitos temos questões de sociedade e questões individuais.
É para nós claro, nesta etapa, que muito dificilmente Jorge e Beatriz poderão desenvolver uma capacidade negocial coerente, numa perspectiva de ganhador / ganhador.
Numa altura em que passaram três anos sobre o desastre que vitimou a filha, a comunicação foi ficando cada vez mais difícil, as partes já não se ouvem, evitam-se, e só o anuncio de Jorge, que afinal o melhor era mesmo avançar para a Eutanásia conseguiu um novo envolvimento mútuo na resolução da situação.
Para conseguirem resolver o conflito, as partes têm de encontrar o momento mais adequado para se encontrarem. Deve haver disponibilidade de parte a parte e vontade de se empenharem
na resolução do problema / conflito.
Nesta fase, é fundamental que cada uma das partes: A escuta é difícil pois esta a lidar com um problema problema no qual Jorge e Beatriz estão envolvidos emocionalmente. Nesta altura, cada um defende o seu ponto de vista, em vez de escutar os argumentos do outro. (A necessidade de encontrar uma solução ajustada para o conflito leva a que todas os seus intervenientes tenham de ser ouvidos, expressando aí os seus valores, sentimentos.)


4.3. A Estratégia

As estratégias podem ser classificadas de acordo com duas dimensões ortogonais básicas: assertividade (grau em que a parte tenta satisfazer os seus interesses próprios) e a cooperação (grau em que a parte tenta satisfazer os interesses do outro).
Do cruzamento entre as duas dimensões resultam cinco estilos competição, acomodação, compromisso, colaboração e evitamento. [7]

- Competição – Reflecte a tentativa de satisfazer os próprios interesses à custa dos interesses do outro. O indivíduo tenta alcançar os seus objectivos sacrificando os do adversário, ou tenta convencer a outra parte de que o seu julgamento é correcto, ou tenta fazer com que a outra parte aceite a culpa por alguma transgressão e assuma as consequentes responsabilidades.

- Acomodação – Consiste na tentativa de satisfazer os interesses do outro, negligenciando os próprios. Podendo representar o desejo de alcançar os objectivos da contra-parte sacrificando os seus, ou a vontade de apoiar as opiniões contrárias, mesmo que delas tenha reservas, ou mesmo o esquecimento da transgressão praticada pelo outro.

- Compromisso – Representa a tentativa de satisfazer, moderada mas incompletamente, os interesses de ambas as partes. Daí pode resultar uma busca parcial de um objectivo, a procura de um acordo parcial para um julgamento/ideia/opinião, ou a aceitação parcial da culpa.

- Colaboração – Consiste na tentativa de satisfazer completamente os interesses de ambas as partes. Isso pode significar a tentativa de obtenção de uma solução ganha-ganha que permita a ambas as partes o alcance completo dos seus objectivos ou a busca do alcance de uma nova conclusão/ideia que incorpore os aspectos válidos dos julgamentos de ambas as partes, ou a tentativa de chegar a um conjunto partilhado de expectativas e a uma interpretação da transgressão que permita estabelecer padrões consensuais acerca do que é aceitável numa dada situação.

- Evitamento – O individuo ignora ou negligência os interesses de ambas as partes. Basicamente, evita envolver-se no assunto permitindo que os eventos sigam o seu curso de acção sem tentar que eles confluam para a satisfação dos interesses de uma e/ou outra parte.

No caso em apreço, estamos perante um clássico caso de antagonismo inicial entre as partes em conflito. Para o podermos resolver, deve desenvolver-se uma estratégia de cooperação. Mesmo que as partes pudessem resolver os problemas interpessoais que traziam da má relação que tinham, das diferenças pessoais e dos ressentimentos, continuaria ad eternum as diferenças de opiniões morais e religiosas. Assim, a estratégia passaria por levar as partes a adquirir uma atitude de Compromisso.


5. VANTAGENS E DESVANTAGENS

O Compromisso, como vimos atrás, representa a tentativa de satisfazer, moderada mas incompletamente, os interesses de ambas as partes. No caso em apreço, mesmo ultrapassadas as diferenças que já vinham do passado, o ruído na comunicação causado pela separação, pelas diferenças de atitude, pelas razões de emoção da própria tragédia, sobrava ao conflito as diferentes convicções morais e religiosas pessoais. A resolução do conflito teria que colocar a tónica no melhor para o bem-estar da pequena Inês. Esse é o único interesse comum que poderia provocar a resolução do conflito
Jorge, o pai, tem a convicção moral que está a proteger a filha de uma vida vegetativa inútil e de sofrimento e, por isso, sem sanar o conflito e à revelia da outra parte poderia colocar termo a vida de Inês, provocando a Eutanásia. Beatriz, a mãe, acredita que não se pode tirar uma outra vida, sejam quais forem as circunstâncias, mesmo as mais difíceis. Esta é uma convicção muito forte, e no início nem sequer estava disponível para a discutir. Para isso, este era um princípio de vida.
Da aplicação do Compromisso, resulta a uma busca parcial de um objectivo, a procura de um acordo. Jorge e Beatriz decidem procurar uma terceira entidade para resolverem o conflito: O Tribunal. Ambos mantêm as suas convicções, mas decidem que vão participar no processo judicial, vão expor as suas razões e, no fim, aceitar a decisão do Juiz, baseada na Lei. O compromisso, é assim, a aceitação pela da Justiça como forma de resolução do conflito.


6. CONCLUSÃO

Após um confronto de diferentes interesses a consequência mais imediata é o conflito.
Pelo facto de as pessoas se relacionarem com outras pessoas com valores, crenças, conhecimentos, experiências e objectivos diferentes, o conflito é um resultado esperado que não deve ser evitado, mas sim administrado.
Abordámos diferentes perspectivas do processo de desenvolvimento do conflito sendo aspectos comuns, a percepção que ambas as partes têm de conceber o conflito como tal, perceber os pressupostos uma da outra, quererem a resolução do conflito e aproveitarem o resultado final do processo de negociação de forma construtiva. O diálogo revela-se, desde o início da preparação da resolução do conflito, um elemento essencial. Existem conflitos que se arrastam, tornam-se crónicos, com consequências negativas para todos.
A abordagem realizada permite-nos adquirir algumas competências, para que na prática nos seja possível contribuir de forma activa para a resolução de eventuais conflitos.


7. BIBLIOGRAFIA

Pina e Cunha, M; Rego, A; Campos e Cunha, R; Cardoso, CC; “Manual de Comportamento Organizacional e Gestão”; RH Editora; 2005

Morais, Ana Maria; “Gestão de Conflitos”; Nursing ; 2002;

Da Cruz, Dulce Menezes; “Gestão de Conflitos”; Ciência e Técnica; 2004; Nº 52

Bilhim, João Abreu; “Teoria organizacional – estruturas e pessoas”, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas; 1996

Fachada; M. O.; “Psicologia das relações Interpessoais”; Rumus; 1998

Rego, Arménio; “Liderança das Organizações – Teoria e Prática”; Universidade de Aveiro 1ª Edição; 1998;


8. LINKS ÚTEIS

http://teses.eps.ufsc.br/defesa/pdf/9360.pdf

http://www.tgtreinamento.com.br/artigo.asp?artigo=21

http://expressoemprego.clix.pt/scripts/indexpage.asp?headingID=4450

http://teses.eps.ufsc.br/defesa/pdf/11455.pdf

FIM
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[1] Cunha, Miguel Pina; et al;”Manual de comportamento organizacional e gestão”;
Editora RH; 3ª Edição; 2004; ISBN: 972-98823-8-X

2/3 Cunha, Miguel Pina; et al;”Manual de comportamento organizacional e gestão”;
Editora RH; 3ª Edição; 2004; ISBN: 972-98823-8-X

[4] Bilhim, João Abreu; “Teoria organizacional – estruturas e pessoas”, Instituto
Superior de Ciências Sociais e Políticas; 1996

[5] Fachada; M. O.; “Psicologia das relações Interpessoais”; Rumus; 1998
[6] Pina e Cunha, M; Rego, A; Campos e Cunha, R; Cardoso, CC; “Manual de Comportamento Organizacional e Gestão”; RH Editora; 2005
[7] Rego, Arménio; “Liderança das Organizações – Teoria e Prática”; Universidade de
Aveiro 1ª Edição; 1998

Grupo 1

Grupo de trabalho

O Grupo 1 é composto por:

Nuno Serrano
Rui Ramusga
Sandra Pinheiro
Ana Cláudia Fernandes
André

Apresentação de trabalho

Olá a todos.

O Grupo 1 da disciplina "Negociação e Gestão de Conflitos" do curso de Solicitadoria da ESTG Leiria criou um espaço na Internet para debater a temática da Eutanásia.

Assim, em http://ngcgrupo1.blogspot.com poderá encontrar fotografias, textos e vídeos sobre o trabalho desenvolvido, para além de um questionário sobre a aceitação, ou não, da Eutanásia.

Neste contexto, a sua opinião é para nós muito importante, pelo que pedimos que navegue neste blogue e expresse as suas opiniões.

Obrigado.